Quiet Quitting: mimimi de uma geração ou oportunidade de reforçar a cultura organizacional?

Antes de falarmos sobre o fenômeno Quiet Quitting, é importante refletirmos sobre o contexto que nos trouxe até aqui. Costumo dizer que quando compreendemos o cenário onde determinadas situações ocorrem, ampliamos nosso olhar para além do julgamento e para a compreensão sadia dos fatos e movimentos que nos rodeiam. Afinal, o universo está em constante movimento e a única certeza que temos é a da impermanência.

Adentrando em um túnel do tempo, vamos juntos olhar como as gerações se comportavam, sendo reflexo do que ocorria no mundo. Os Baby Boomers por exemplo, hoje com seus 60-80 anos viveram o período pós-segunda guerra mundial, o que trouxe uma resistência às mudanças, uma necessidade de autoproteção, de priorização da estabilidade. Avançando um pouco mais, a geração X cresceu com o estouro da Guerra Fria e com a ditadura civil-militar, o que trouxe características fortes de ceticismo em relação às autoridades, perdendo um pouco do senso coletivo e se tornando mais individualistas e competitivos.

A chegada da geração Y ou millenials, nascidos entre os anos 80-95, traz pessoas fortemente influenciadas pelo crescimento da internet, vendo o mundo se tornar cada vez mais veloz, por isso tendem a serem mais flexíveis às mudanças, estão constantemente conectados e prezam a estabilidade, mas também a ousadia, a paixão e a experiência em si.  Quando finalmente chegamos à geração Z, que hoje já iniciou sua jornada no mercado de trabalho, vemos uma geração que nasceu com celulares na mão.

Nativos digitais, não diferem o online do offline, se preocupam com questões ambientais, sociais e olham o trabalho de uma maneira diferente das outras gerações que comentei aqui. Veja que cada geração provavelmente compreendeu de maneiras diferentes o que era valor, quando olhamos para sua atuação no mercado de trabalho. Por exemplo, pode ser que o prestígio ou grandes salários não sejam a melhor moeda de troca para uma geração conectada e desejando flexibilidade para viver a vida, seguir um propósito e desfrutar o dia a dia de maneira que não seja apenas focado no trabalho.

Voltando ao momento presente, acompanhamos o movimento chamado Quiet Quitting, que em português pode ser traduzido como demissão silenciosa. Esse movimento é cabeceado pela geração Z e pelos Early Millenials – aqueles que iniciaram suas carreiras já em um mundo remoto e híbrido.

Mas o que exatamente esse movimento quer dizer?

Pelo TikTok e pelo Reddit podemos acompanhar esse viral, onde os profissionais fazem o mínimo necessário, o básico de suas atribuições no trabalho para que não sejam demitidos. Enquanto isso, buscam outras atividades para focarem seus esforços e trazer a tão sonhada satisfação momentânea.

Compreendido muitas vezes por outras gerações como ‘mimimi’ ou ‘preguiçoso’, esse movimento diz muito sobre as relações atuais de trabalho, impactadas pela pandemia e pela força da geração Z. A cultura “work hard” vai perdendo espaço e passa a ser valorizado o “work hard, play harder”, trabalhar muito e se divertir muito.

Além da questão geracional, é importante levarmos em conta que a maioria dos profissionais se encontram em estado de exaustão, prova disso são os altos índices de registro de burnout e o aumento de iniciativas que buscam promover a saúde mental para seus colaboradores.

Vindos de uma rotina onde a vida pessoal e profissional muitas vezes se misturou, o modelo de trabalho híbrido e a volta ao trabalho presencial, tem trazido à tona discussões sobre propósito, gestão do tempo, como priorizar a família ou o que é importante para aquele indivíduo.

Então quer dizer que as novas gerações não gostam de trabalhar?

Não é por aí! Apesar de compreenderem o trabalho como algo chato, quando não conectado às suas aspirações pessoais ou quando não permite que tenham reconhecimento e tempo para fazer o que realmente acreditam importar, temos um movimento também impulsionado pelos jovens profissionais, chamado FatFire. Basicamente representa o movimento de garantir um pé de meia gordo suficiente para conquistar independência financeira e a aposentadoria antecipada.

Portanto, se vislumbramos esse cenário onde de um lado, temos profissionais cansados, se sentindo desvalorizados, desmotivados e fazendo o mínimo possível, de outro temos profissionais que reconhecem o trabalho com algo que proporciona uma moeda de troca puramente financeira, o que se mostra suficiente para seus planos de futuro.

Então como as empresas podem estar mais preparadas para lidar com esses movimentos e tantos outros que surgirem?

Com base na experiência que adquirimos atendendo as maiores empresas do Brasil, acompanhando diversos líderes e liderados, vejo que o primeiro passo é se interessar genuinamente pelo outro: quais seus desejos, sua ambição, o que valoriza, que relação de trabalho preza? É um profissional que valoriza o reconhecimento de seus esforços ou é um profissional que preza por tempo e qualidade de vida para tocar projetos pessoais ou outras carreiras?

Independente de um modelo híbrido de trabalho ou totalmente online, é importante que a liderança se mantenha próxima de seus times, compreendendo quais são os desafios diários e como cada perfil de profissional está encarando e se desenvolvendo a partir deles.

Mais do que julgar gerações, movimentos, tendências e modelos de trabalho, é importante termos um olhar apreciativo para os ciclos presentes em nosso mundo e seu reflexo no mundo corporativo, tendo senso de responsabilidade para avaliar se a cultura da empresa caminha com o mundo, ou se encontra-se empoeirada em algum canto.

Que cultura queremos construir? Estamos aplicando nossa cultura e valores na prática?

Há muito o que podemos falar sobre liderança, cultura, modelos de trabalho e a beleza da diversidade (também de ideias, gerações, propósitos) para criação de um ambiente de trabalho mais inspirador e menos amedrontador ou transitório. Vivemos em um momento único e oportuno para falarmos de cultura organizacional e como podemos auxiliar nossos profissionais a serem mais felizes e realizados, ou como nós podemos reconhecer o que faz mais sentido para nossas vidas e buscarmos os melhores caminhos para chegar aonde desejamos.

E você? O que está fazendo pela sua qualidade de vida e sua carreira? Que movimentos deseja impulsionar?

Vamos bater um papo sobre isso?

 

Stella Nery

Gerente de Desenvolvimento na Movidaria. É também a maga das artes, gateira, geek e apaixonada por descobrir como ajudar pessoas.

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