DIRETO E RETO: Primeira liderança sim; Primeiro trauma profissional, não.

primeira liderança

Se seu colaborador acabou de ser promovido para o seu primeiro cargo de liderança, está vivendo os primeiros meses dessa experiência ou acredita que logo logo ela vai chegar, sabemos que muitas dúvidas passarão pela cabeça dele. Por outro lado, se você faz parte de uma área de RH ou Treinamento ou, ainda, faz a gestão de pessoas recém promovidas à liderança, temos certeza que você já está acostumado e cansado de ouvir falar em várias fórmulas prontas que prometem te ensinar a desenvolver esses profissionais do jeito certo (e nada realista). Mas, seja qual dos personagens acima você for, calma! Você chegou ao lugar certo.

A primeira liderança é uma das fases de carreira mais aguardadas e sonhadas por quase todo mundo. Porém, ironicamente, pode ser também uma experiência profissional bastante negativa. Uma pesquisa do Center for Creative Leadership validou o que já sabemos: a primeira vez na cadeira de liderança é a mais difícil e com maior potencial de trazer frustração profissional. Os dados da pesquisa mostram que 20% dos promovidos à primeira liderança estão fazendo um trabalho fraco de acordo com seus subordinados e 26% não se sentem preparados para ocupar a posição.

Pra falar sobre esse universo e responder as dúvidas de muitos de nós, hoje é dia de bate-bola com Costábile Matarazzo, que atua desde 2010 com desenvolvimento de líderes. Confira!

Matarazzo, conta pra gente um pouco da sua trajetória até aqui!

Bom, foi em 2010 que eu fiz a transição do mundo corporativo para a consultoria. De lá pra cá, me envolvi em centenas de projetos de desenvolvimento de liderança e negócios. Dentre todos os temas, particularmente me interessei pelos desafios da primeira transição de liderança. Me inspirando nas palavras e ideias de uma grande autora e pesquisadora do tema, Linda Hill, parece que as prateleiras estão cheias de livros sobre como fazer uma gestão e exercer uma liderança eficaz, porém poucos conteúdos falam diretamente ao líder de primeira gestão.

A promoção é considerada um prêmio, mas os desafios e as angústias da transição são desconsiderados.

EM POUCAS FRASES E NA SUA VISÃO, COMO É A EXPERIÊNCIA DE LIDERAR UMA EQUIPE PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA?

A primeira gestão é uma viagem sem volta. As dores e as angústias provocam transformações ou traumas. Aprender a ser líder só vem depois da compreensão do novo papel.

No mercado hoje, temos muitas dicas de quem liderou há muito tempo ou até mesmo nunca liderou. Existe muita coisa interessante, mas distante da realidade de quem está vivendo isso agora. Você, como um especialista no assunto, que resolveu dedicar horas de estudo e prática para desenvolver jovens líderes nas maiores empresas do país, com certeza tem muita história pra contar.

ENTÃO, FALA PRA GENTE… QUAIS SÃO OS TRÊS MAIORES E MAIS COMUNS MITOS SOBRE A PRIMEIRA LIDERANÇA?

É interessante observar como as histórias que ouvimos e contamos sobre os novos líderes parecem romantizar o momento pós-promoção, enquanto a realidade envolve muita angústia e muitos desafios durante as transições para outras posições de carreira. Abaixo, destaco três:

1.“Depois da minha promoção, preciso fazer mais e trabalhar mais tempo para conseguir entregar os resultados esperados e conquistar meu espaço como novo líder”. Isso é um mito. Apesar de a transição de liderança exigir esforços, trabalhar próximo ao seu novo time e dedicar tempo para compreender seu novo papel é fundamental no primeiro momento, o que não significa necessariamente trabalhar mais e muito menos sozinho.

  1. “Depois da minha promoção, vou ter poder e autoridade para pedir ao time que faça o que é preciso ser feito”. A autoridade é do cargo que te foi dado e pode ser retirado a qualquer momento. O problema é que a autoridade não convence e nem mobiliza ninguém, apenas empurra com força. A liderança vem da legitimidade que o time dá ao líder – até mesmos aos líderes informais – e não do poder do nome.

3 . “A primeira coisa que vou fazer depois da minha promoção é trocar aquela pessoa do time e, finalmente, mudar aquele processo de reembolso de gastos”. Mito. A autonomia que o líder de primeira gestão acredita que terá não será assim tão fácil. A configuração do time e o desenho dos processos são resultados de decisões passadas. Nenhuma mudança nesse sentido poderá ser imediata e de forma monocrática.

E TRÊS COISAS QUE TODOS OS LÍDERES DE PRIMEIRA VIAGEM DEVERIAM SABER, MAS NINGÉM FALA?

1 . Muitas vezes os novos líderes acreditam que é só trabalhar duro e mais que darão conta do recado. A verdade é que exército de um homem só não ganha o jogo do mundo corporativo. Um líder precisa de aliados que o apoiem, portanto é imprescindível conhecer e se aproximar do seu time.

  1. O recém promovido quase não terá autonomia. Um líder não pode simplesmente trocar seu time de uma hora pra outra, modificar processos de um dia para o outro ou mudar o sistema de gestão da área. Todas as engrenagens de todas as áreas estão conectadas. A autonomia é uma falácia. Tudo é construído em conjunto e as soluções que parecem simples e rápidas nunca são.
  2. Ter controle emocional e aprender a ler o Econtexto onde está inserido é mais importante do que qualquer conhecimento técnico-operacional que você possa ter.

PRA GALERA QUE ESTÁ VIVENDO ISSO AGORA, QUAIS FILMES OU SÉRIES TRADUZEM BEM O QUE É LIDERAR PELA PRIMEIRA VEZ?

Boa! “Uma líder inserida no campo da educação: o espelho tem duas faces”, com Barbra Streisand e Jeff Bridges, de 1996. “Billions”, série da Netflix. E esse trecho do filme Kung Fu Panda (clique aqui) .

E TEM SEGREDO DO SUCESSO?

O segredo é: não existe segredo.

No âmbito da liderança, o que existe é uma série de fatores combinados que impactam o dia a dia do líder e da empresa. O primeiro fator fundamental que deve ser considerado é o contexto em que o líder está inserido.

Exercer uma liderança exitosa depende da compreensão do onde lidero (cultura e mercado) e para quem lidero (características do time e da área). Uma posição de liderança inserida dentro da estrutura de um grande banco exige habilidades e leitura de cenário bem diferentes de líderes de empresas de tecnologia, por exemplo. Um líder de uma linha de produção de uma indústria deve ter um portfólio de competências bem diferente de um líder de um time de analistas no escritório.

O sucesso de um líder, portanto, depende do desenvolvimento de uma identidade de líder garantindo a compreensão do seu novo papel, o que significa deixar de fazer todas as atividades operacionais que fazia anteriormente e começar a exercer atividades relacionadas à sua nova função.

Esse contexto traz angústias e desafios, que deram início às pesquisas bibliográficas e depois às colheitas dos depoimentos inseridos no livro Os desafios da Primeira Gestão, de minha autoria e publicado pela Qualitymark. No livro, apresento o conceito de 3Ds: Delega, Desapega, Desenvolve.

E QUEM QUISER ADQUIRIR O SEU LIVRO, O QUE DEVE FAZER?

Pode acessar este link (clique aqui).

A verdade é que nós temos muuuuito o que falar sobre liderança e, em especial, primeira liderança. Todo o tempo do mundo com Costábile Matarazzo seria insuficiente para desvendarmos todas as dúvidas, mitos e incógnitas que envolvem esse momento de carreira.

Texto por: Cauê Vicente – Gerente de Negócios na Movidaria

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