Acelerado pela pandemia, o modelo de trabalho híbrido é uma realidade que agrada as novas gerações de profissionais. Essa adesão se deve a diferentes motivos, como a adaptação ao trabalho remoto, vantagens econômicas e até o aumento da produtividade em diferentes ambientes.
Agora, gestores e empresas estruturam maneiras de unir as vantagens do trabalho presencial com o remoto, encontrando formas de manter os profissionais engajados, trabalhando de forma saudável e atendendo aos desafios do negócio.
Perceba que os modelos de trabalho foram mudando rapidamente ao longo dos últimos anos e muitas empresas e gestores se adaptaram, acertaram, erraram, corrigiram rota, mas e agora? Será que os métodos antigos funcionam para essa nova realidade que – não podemos esquecer – é volátil e transitória?
Antes de falarmos sobre as possíveis respostas para essa pergunta, vou deixar um dado para você refletir:
Segundo o relatório Grandes Expectativas, divulgado pela Microsoft, 50% dos líderes globais afirmam que suas empresas pretendem voltar à dinâmica presencial nos próximos 12 meses. Ao mesmo tempo, 52% dos colaboradores demonstram que estão mais alinhados com uma transição para o trabalho híbrido ou desejam manter suas funções remotas.
A diferença entre os objetivos das empresas e o desejo dos profissionais fica mais nítida quando olhamos para os dados da pesquisa da ADP Research Institute. Dos entrevistados, 71% dos jovens de até 24 anos declararam que preferem mudar de emprego a voltar ao presencial.
(blog.runrun.it )
A preferência pelo modelo híbrido, e ainda mais pelo remoto, se dá muitas vezes pela flexibilidade da jornada de trabalho, pela possibilidade de foco nas tarefas e pela qualidade de vida, uma vez que o tempo gasto em deslocamento ao local de trabalho e/ou entre uma reunião e outra pode ser utilizado para afazeres domésticos ou atividades de autocuidado, entre outras.
O que vem acontecendo com essa rotina é que as agendas estão cada vez mais cheias, sem espaços para atividades que não estejam antecipadamente programadas. Sendo assim, como podemos incluir momentos de conversa e conexão com o time?
Chegamos então à pergunta mais importante: será que os formatos de feedback utilizados até então são a melhor maneira de acompanhar os profissionais do time? Abaixo coloco algumas hipóteses e reflexões:
- Os últimos anos nos deixaram mais afogados em nossas rotinas e mais distantes das pessoas. Se este é o caso da liderança, é hora de parar, respirar, reavaliar as prioridades, seu papel, o que o negócio espera desse profissional e como ele precisa organizar a agenda para que momentos realmente importantes sejam parte integral da rotina. Seja presencial ou remoto, gerar conexões genuínas com as pessoas ao redor e ter conversas francas são atitudes necessárias para que possamos compreender as nossas vulnerabilidades, as vulnerabilidades do outro e nos apoiar.
- Feedback por muito tempo foi considerado um olhar para trás, para tudo o que aconteceu e merece ser lembrado (pontos positivos e negativos), mas sabemos que é preciso ter atitudes no presente, criando o hábito de desenrolar diálogos francos quando algo ocorreu – seja uma celebração ou um alerta.
- Se as lideranças da sua organização não lideram pelo exemplo, então não podem esperar muito do time. Quero dizer aqui, que se um líder busca estabelecer relações francas, de modo que o feedback extrapole os momentos formais da companhia e se torne algo parte da rotina e do modus operandi do trabalho, precisa dar o exemplo. O líder precisa ser o vetor das atitudes que espera encontrar em seu time.
- Compreender os diferentes tipos de ferramenta de comunicação é importante para estabelecer as melhores soluções para cada situação. Não existe nada mais constrangedor para um liderado do que conversar com o líder remotamente e perceber que ele/ela não está demonstrando atenção plena e, consequentemente, não está acolhendo seus anseios e desejos. Por isso, planejamento é importante. Será que tal assunto exige uma conversa presencial, olho no olho e sem distrações? Será que é uma conversa rápida e pode ser realizada on-line? Se a liderança não puder estar presente, 100% focada, talvez seja melhor remarcar. Perceba que não basta encorajar os líderes da sua empresa a abrirem espaço na agenda para dialogar com o time, é preciso que essas pessoas que ocupam essas posições encontrem maneiras de estarem verdadeiramente presente.
Com certeza você já se deparou com diversas descrições e boas práticas de feedback, mas a reflexão que gostaria de trazer é para como estamos verdadeiramente presentes nesses momentos. Independente da ferramenta ou método, como estamos agindo, como estamos falando e ouvindo? Deixo aqui uma sugestão de vídeo para complementar esse ponto: https://www.youtube.com/watch?v=Zn9LA7-FZz8
Neste vídeo, Kim Scott, autora do livro Radical Candor compartilha como líderes devem abordar o feedback para construir uma cultura de confiança com seus times.
Torne o feedback, um momento de ter conversas corajosas com seu time!
E se a sua organização ainda usa o feedback como um método para olhar para traz, que tal passar a olhar para frente?
O chamado Feedforward é um método que olha para frente, buscando otimizar o potencial de cada profissional. Esse olhar com certeza irá complementar tudo o que você já conhece e usa dos tradicionais modelos de conversa, sendo capaz de orientar esse momento aos resultados que se quer alcançar. Veja abaixo um passo a passo, com sugestões de perguntas para orientar essas conversas:
- O QUE FOI POSITIVO
“Qual o resultado mais expressivo você teve essa semana?” ou “o que você acha que mudou ou evoluiu em você essa semana?”. - O QUE PODERIA SER DIFERENTE
“Quais os principais pontos de desenvolvimento” ou “o que você poderia fazer de diferente na situação que mais te incomoda?”. - COMO FAZER
“Como você acha que pode melhorar esse ponto?” ou “O que deve acontecer para que essa situação não se repita?”. - COMO APOIAR
“Como eu (em meu papel de líder) posso te ajudar?” e “como você pode contribuir?”.
Um ponto importante de ressaltar aqui é que as conversas não devem ser apenas motivadas por acontecimentos que mereçam orientação ou ajuste de rota. É preciso celebrar boas atitudes e resultados, além de promover momentos de conexão e diálogo que extrapolem os assuntos mais densos e possam ocorrer tratando assuntos corriqueiros também. Manter uma relação leve e franca com o time é o caminho para estabelecer relações mais saudáveis e duradouras, seja em qual modelo de trabalho estiver atuando.
Stella Nery
Gerente de Desenvolvimento na Movidaria. É também a maga das artes, gateira, geek e apaixonada por descobrir como ajudar pessoas.